Penalva do Castelo, concelho educador, ainda me lembro de quando em 2016 começaste a dar os primeiros passos, ainda tímido e pouco audaz, mas com a visão correta de conquista do potencial humano. No fundo, sabias que as tradições da tua gente, o teu património humano, era o mais importante legado que tinhas que preservar e reconhecias que o exercício das tuas funções, de cariz obrigatório, a elas se deviam destinar. Hoje sei, que sabias e sentias que te faltava algo, compreendo a necessidade de te assumires como um meio educativo, essa necessidade do “grito de Ipiranga” de quem é capaz de fazer mais e melhor, de investir em si, de criar oportunidades de aprendizagem, troca de experiências para a construção de uma identidade social e melhoria das condições de vida de quem em ti habitava. Tu sabias! Sabias que um compromisso com o território seria um compromisso com os direitos das pessoas, com o seu desenvolvimento integral, com a sua educação e por isso tiveste necessidade de te aliar e criar a tua própria rede de apoio, para que marchasse contigo nos mais díspares espaços da comunidade. Vejo que conseguiu criar um sistema de relações constantes entre a educação, a cultura, a proteção social e local, a arte, o desporto e a cidadania, veem a tua capacidade de atuar na multiplicidade das situações e circunstâncias existentes, que conseguiste um maior progresso e equidade social, uma grande diferença cognitiva.
Ao olhar para o concelho educador em que te tornaste sinto orgulho na tua maior sensibilidade para a promoção da igualdade, do respeito pela diversidade, das oportunidades de acesso à cultura, que criaste e no exercício da cidadania democrática que sempre defendeste. Desconfio que não tenha sido fácil eliminares todos aqueles obstáculos urbanísticos que tantos constrangimentos criavam a quem em ti vivia e queria visitar, bem como deve ter sido um desafio criar um planeamento urbano que promovesse a integração e dessa resposta à diversidade que tão corajosamente adotaste como filhos da terra. Tanta ansiedade e medos que o desconhecido provocava quando falaram dos refugiados para a Europa e tu? Tu olhaste em frente e abriram os braços, tu promoveste o diálogo entre gerações, apostaste na qualidade de vida de todos, desta resposta às necessidades que existiam e fizeste com que se sentissem importantes e significativos ouvindo-os de maneira democrática e ética como só tu soubeste. Enfrentaste vários desafios é verdade, nem sempre foi fácil bem vi, mas conseguiste formar informalmente os teus cidadãos, garantiste o acesso à informação, à sustentabilidade ao nível da saúde e da qualidade de vida.
Turismo inclusivo? Quem diria que ias ser uma referência para quem lhes são retiradas oportunidades de conhecer e explorar o mundo e que oferecerias um pouco de ti a cada pessoa que te visitava, um pouco da tua educação, do teu património humano e cultural, um pouco de saberes que sobreviveram ao tempo, um muito que sem que te apercebesses tanta diferença fez na vida de quem desconhecia o meio rural?! Esse meio, esse ambiente, que tantos esforços fizeste por proteger e que se tornou numa continuidade da tua gente. Quem diria que aquele ponto ali, encontrado no coração do Dão, bem no interior do país que era esquecido por quem no litoral tem todas as oportunidades, iria crescer e se glorificar com o seu próprio património, com o seu próprio esforço, com a sua própria perseverança, usando apenas a educação como arma?!
Se em 2016 me dissessem que aquele pequeno passo que estavas a dar iria contribuir para a transformação da sociedade, confesso que não acreditava com a crença que te espelhava no olhar, hoje vejo que mais do que uma vila, te tornaste num concelho educador!