Conversas em tempos de COVID
Reunião dos Autarcas de Rosário (Argentina), Montevideu (Uruguai), Curitiba (Brasil), León (México), vice-prefeito de São José (Costa Rica) e secretária-geral da AICE, para partilhar estratégias contra o COVID-19 e seus efeitos.
Por proposta da delegação de Cidades Educadoras para a América Latina, os autarcas de Rosário (Argentina), Montevideu (Uruguai), Curitiba (Brasil), León (México), o vice-prefeito de São José (Costa Rica) e a secretária-geral da AICE, reuniram-se na última terça-feira, 26 de maio, para trocar e compartilhar soluções para combater a disseminação do COVID 19 e seus efeitos sobre a população. As cinco cidades mostraram a sua capacidade de adaptação ao novo cenário, a criatividade das suas equipas e o seu papel como agentes educadores na sensibilização dos cidadãos e a articulação de sinergias. Todos eles estão demonstrando que as suas ações estão bem encaminhadas, já que os índices de contágio na maioria dessas cidades são inferiores à média nacional dos seus respetivos países.
A conversa foi moderada por Rogelio Biazzi, Coordenador Geral do Gabinete de Rosário. Algumas das iniciativas que compartilharam foram: o trabalho realizado pela prefeitura de São José com as pessoas em situação de sem abrigo durante o seu confinamento em hotéis para melhorar a sua situação geral. A vice-prefeita Paula Vargas informou que ações foram tomadas tanto em termos de saúde, em muitos casos deterioradas pelo uso de substâncias, quanto focadas na sua recuperação pessoal, por meio de ações formativas com vista à sua reintegração.
O Presidente da Câmara de Montevidéu, Christian di Candia, por sua vez, explicou que no auge da pandemia foram preparadas mais de 26.000 cestas de alimentos, as quais, para além da comida, continham livros, entendendo que a cultura também é um direito. Posteriormente, tendo em vista o relançamento da economia local, essa ajuda direta foi substituída por títulos para trocar nas lojas locais. A cultura foi um dos setores que mais sofreu com a situação de confinamento e provavelmente será um dos setores que levará mais tempo a recuperar, pelo que o Município de Montevideu destinou um montante equivalente a um milhão de dólares para favorecer a continuidade da programação cultural, seja por streaming, televisão ou outros meios. Na política habitacional foi realizada uma campanha de ajuda anti-despejo, beneficiando cerca de 500 pessoas e reforçando protocolos anti-violência baseados no género, articulando novos canais de denúncia.
Pablo Javkin, autarca de Rosário, falou da reativação da indústria local para a produção de sistemas de segurança, evitando assim depender das importações, sublinhando o interesse do Município em manter esses vínculos para além da pandemia. Rosário também realizou um mapeamento e articulou uma rede para atender os 218 mil idosos do município. Foram estabelecidos acordos com lojas para evitar que os idosos saiam de casa para fazer as compras e foram criados 6 abrigos para evitar contágio, alguns deles equipados com pomares urbanos, como medida recreativa.
O autarca comentou que tem realizado reuniões com o conselho infantil para saber em primeira mão como os jovens estão vivendo em confinamento. Dada a suspensão temporária de feiras e mercados, outra das iniciativas de Rosário foram as feiras verdes, suportadas pela criação de um portal onde feirantes e empreendedores da economia social promovem os seus produtos e serviços para que os interessados possam estabelecer contacto e realizar vendas e entregas sob as condições atuais de higiene e segurança. A situação de confinamento gerou um aumento no comércio online, por isso o município desenvolveu uma aplicação para facilitar as transações económicas entre compradores e vendedores locais, especialmente para o setor de restauração, livre de comissões.
Rafael Greca de Macedo, Prefeito de Curitiba, partilhou a iniciativa Curitiba Lee, um aplicativo que permite o acesso a mais de 200 livros online, de autores da literatura universal e local. Sendo a cidade responsável por uma rede de mais de 400 escolas públicas, o conteúdo foi desenvolvido, tanto para a sua divulgação na televisão, quanto na internet para que os alunos possam avançar na sua formação. Além disso, a cidade tem produzido grandes esforços nas informações para os cidadãos e no desenvolvimento de um sistema de tele-consultoria médica para prevenir o contágio e ativar a deteção e o tratamento das pessoas infetadas.
Hector López Santillana, Presidente do Município de Léon, destacou o trabalho, em estreita colaboração entre o município, universidades e centros de pesquisa, na articulação de esforços e na construção de possíveis cenários para evitar a implementação apenas de políticas reativas. Também foi feito um trabalho para identificar as áreas da cidade com maior risco de contágio e as populações mais vulneráveis para concentrar a atenção nelas. Na sua opinião, a situação atual é um teste para o município demonstrar o seu compromisso como Cidade Educadora. Por essa razão, León preferiu realizar políticas de incentivo e educação, ao contrário de políticas coercivas e punitivas. A informação e a comunicação são chave nesta altura.
O presidente comentou que teve reuniões regulares com todo o tipo de grupos, já que todos devem fazer parte da solução: com o Conselho da Juventude, com as diversas colónias ou frações (alas ou distritos), com professores e funcionários da saúde, com representantes empresariais e sindicais e com moradores dos bairros. Espera que esta contingência os fortaleça como sociedade. No que diz respeito à educação formal, na sua opinião, é visível uma mudança de paradigma que determinará o conteúdo e os métodos de ensino-aprendizagem das novas gerações. A capacidade de adaptação às circunstâncias de um mundo em mudança também precisará ser fortalecida e as famílias também se deverão envolver mais na formação dos seus filhos. Como uma iniciativa a destacar, embora muitas pessoas ainda não tenham acesso às tecnologias, destacou o programa Learn Leon, uma plataforma virtual para promover a aprendizagem de novas competências e ferramentas tecnológicas para o estudo e trabalho à distância.
Algumas das dúvidas levantadas em relação ao retorno ao “novo normal”, valerá a pena serem abordadas em futura reunião. É preocupante o impacto que esta situação terá sobre os cidadãos mais jovens e o reforço psicológico que será necessário para compensar esse período de isolamento físico e hiperconexão digital, que está levando, em alguns casos, a perceber o outro como uma possível ameaça ou símbolo de perigo. Outra questão tem a ver com a forma como se deverá repensar o espaço público após a pandemia, tendo em conta o importante papel que desempenha na construção coletiva, uma construção para a qual as Cidades Educadoras têm trabalhado tanto. Outro tema para aprofundar em novo encontro é como educar e avançar para o consumo e a produção responsáveis e para a criação de mercados de trabalho com foco na sustentabilidade.
Sinceros agradecimentos às cinco cidades e seus líderes por partilharem o seu tempo e suas experiências e aprendizagens connosco.
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